Posted by : Charlie S. Dias segunda-feira, 2 de março de 2020

Experimento nº 3 – Coronavírus e afins




Este experimento envolveu um episódio com alguns amigos numa sala de espera de urgências hospitalares, enquanto esperávamos a chamada para o horário de visitas.

A maioria é de terceira idade – ou os famosos boomers - mas também se encontra alguma geração X e até Z. Naquele cenário, sinto-me na geração Ai ai ai ai.

Já se vêem folhetos informativos e preventivos em relação ao coronavírus nas paredes, e um ou outro cidadão de máscara na cara.
Na pequena e inaudível televisão, lêem-se os rodapés noticiosos de que há mais dois casos confirmados em Espanha, ali mesmo ao lado. O pânico é silencioso, mas deve ser geral... Ele anda aí, ai ai...

Daqui é o coronavírus, adoro viajar e de entrar em contacto com novas pessoas. - Até parece simpático, não é?

As informações nos folhetos de hospital recomendam a lavagem regular das mãos e a utilização do braço como barreira ao tossir.

Na sala, um pouco por cada espaço, utentes tossem. Não para a mão, não para o braço... mas para a atmosfera!!
Talvez aquele senhor a tossir sem qualquer barreira para o alto da atmosfera esteja a tentar matar o potencial vírus por queda livre. Talvez aquele do outro lado a tossir contra a parede com toda a força e vontade esteja a tentar esmagar o maldito vírus contra a parede. Talvez aquela senhora a tossir para a máquina de venda de chocolates esteja simplesmente a tentar confinar o bicho na dita máquina, ou a eletrocultá-lo nas luzes ou na tomada. 
Ele vem lá da China, e como se sabe, tudo o que vem lá produzido da China escangalha-se facilmente... vale a pena tentar.


De repente, imbuído daquele espírito alarmista, que vontade me deu de arrancar a máscara à senhora de terceira idade, coitada. Depois de máscaras e desinfetantes, corram para o supermercado para disputarem as últimas latas de atum e de salsichas enlatadas. É cada um por si... Ai ai.

Alguns ligeiramente mais conscientes, tossem para as mãos, que logo de seguida roçam aquela maçaneta da entrada, mais rodada que a Terra em milhões de anos de existência. – Devo dizer que enquanto escrevia esta frase, sem querer escrevi “mães” em vez de “mãos”, e mesmo assim a frase estaria provavelmente precisa.
Um senhor novo e de poucos cabelos – isto sou eu a treinar para dar depoimentos à comunicação social acerca dos primeiros casos confirmados, que serão investigados à exaustão – tosse sublimemente para a atmosfera do vizinho adoentado e volta ao seu telemóvel infetado.

As janelas – Haviam janelas, sequer? – fechadas, a sala escura. Como se uma mensagem quisesse ser passada: “Daqui já não sais a respirar”.

Após muito tempo de espera, como um hospital português que se preze, surge uma docente com uma lista de pessoas a chamar para as visitas. Quando ouvir o nome do  “seu” utente, faça-se notar, por favor.
Os nomes estão lá todos, os nomes não fugirão daquele bloco de folhas, a tinta de impressora não evaporará subitamente... mas depressa a senhora se vê cercada tal e qual um árbitro de um FCP x SLB após expulsar um jogador ou assinalar uma grande penalidade. 
No meio de tantos nomes chamados para a atmosfera contaminada, e relembrando os tempos de escola, confesso que tive a súbita vontade de gritar “PRESENTE” em qualquer um dos nomes... assim mesmo ao calhas. Ou “PRESUNTO”, como alguns mais tolos faziam.

Seguiram-se mais horas de espera. 
Nos altifalantes pediam-se a duas matrículas para tirarem o raio dos carros do lugar reservado às ambulâncias. Mesmo à rei, mesmo à tuga!
Passados uns minutos, o mesmo aviso, para as mesmas pessoas. 

Algumas teorias populares, circulam que isso do coranavírus foi tudo feito pelo governo, porque “para eles, matar metade ou mais é igual”. Aliás, é isso mesmo que eles querem, vá-se lá saber porquê...
Espero que apanhem rapidamente o Dr. Drakken ou Dr. Frankenstein por detrás disto.

À esquerda, uma senhora sem cerimónia tira a sua sandocha da mala e come-a avidamente. Pergunto-me se será de queijo, fiambre... panado?? Talvez com uma folha de alface, talvez com uma pitada de coronavírus.
Não cheguei a nenhuma conclusão relativa à sandes – apenas que devia estar boa – mas cheguei à conclusão de que provavelmente morrerei de preguiça. Podia deslocar-me lá fora para um ambiente mais puro, mas a preguiça disse-me que agora já era tarde, e se fosse para morrer, ao menos que fosse bem sentado.

Depois de duas ou três horas de espera – no meio de tantas, o que importa se é mais ou menos uma? Quem sequer repara? -  finalmente pudémos abandonar o local. Sem tocar na maçaneta, obviamente. Isso nunca!

Hoje, enquanto publico este texto, surge a informação de que foram confirmados os primeiros casos positivos em Portugal. A nossa pacata nação perdeu oficialmente a virgindade de COVID-19, depois de tantos preliminares de falsos alarmes.
Agora, e face a esta tarde numa unidade hospitalar, que me encheu de otimismo, basta rezar que, num país em que as notícias se espalham depressa, o coronavírus não passe tão facilmente de boca em boca. Isso, e que nunca falte o atum nos supermercados, claro...Ai ai ai aiiiiiiiiiiiii!






Charlie S. Dias

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