Posted by : Charlie S. Dias
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019
“Literalmente”, segundo dicionários – De modo literal;
Rigoroso; Conforme a letra do texto; Uso da expressão na sua verdadeira
acepção.
“Literalmente”, segundo muito boa gente neste país – Advérbio
de intensidade; Usado para reforçar ideias.
Sinto um bocado de comichão ao ouvir certas coisas,
confesso!!! – Mas não literalmente, só quando estou com pulgas...
Tenho ouvido essa palavra a ser demasiadas vezes mal
empregue, e já que não tenho mais nada
que fazer, quero revoltar-me pacificamente contra este flagelo.
Começo com um testemunho num daqueles dias frios de Janeiro
deste ano, daqueles mesmo mesmo frios: Ouvi alguém a comentar que estava
“literalmente a morrer congelada”. Em relação a isto, quero apenas afirmar que interpreto
essa calúnia como uma enorme falta de respeito para com o Jack do Titanic.
Mas fosse isto apenas exclusivo à linguagem mundana de quem
espera pelo autocarro... Só que não. Também acontece nas televisões, por
exemplo.
Noutro dia, um canal desportivo que acho por bem manter no
anonimato, passava um dos seus habituais resumos de jogos de futebol. A dada
altura, depois de um potente remate contra o guarda-redes de branco, eis que o
comentador da Sport TV+ (ups!) acrescenta ao seu relato: “Contra o
guarda-redes... Deu literalmente o peito às balas!”.
Fiquei indignado!!!
Nem um amarelo mostrado!!!!!!! Espero que o guarda-redes
tenha sobrevivido!! E espero que quem permitiu a entrada de uma arma de fogo no
estádio, seja devidamente punido!! A não ser que tenham sido balas de borracha
ou de brincar, e assim ficaria um bocadinho menos indignado.
Mas não foi só isto... Também me sinto indignado com a RTP,
uma estação de todos nós...
Foi num dos célebres e raros programas em que é pedida
intervenção do sábio e maravilhoso povo para decidir o resultado de um concurso
de talentos. A apresentadora da RTP, cuja identidade prefiro não revelar,
diz-me para ligar imediatamente, porque a decisão estava “literalmente nas
minhas mãos”.
Olhei para as minhas mãos abertas, e fitei as palmas... A
direita, a esquerda... De novo a direita, outra vez a esquerda... Nada!!!
Sinto-me enganado!!! Roubado, até!!!! Então mas o que é isto?!?! Ou a decisão é
transparente e intangível, ou fui roubado antes de sequer ter tido tempo para apalpá-la!
Fiquei desiludido, queria senti-la! Claro que já não liguei para votar, apesar
do apelo da bonita apresentadora, de cabelo pomposo e proeminente sinal abaixo
da boca. – Boa sorte a decidir entre a Sílvia Alberto e a Catarina Furtado, que
eu cá não sou de difamar ninguém...!!
O último episódio que tenho para partilhar, teve como
protagonista o ilustre comentador de lances de arbitragem e polémicas, e
ex-atleta do Sport Futebol Damaiense, o excelentíssimo senhor doutor juiz futebolista
Pedro Guerra. Eu sei, eu sei...!!! A indignação é tal, que já não quero saber
de anonimatos para nada!
Fiquei indignado porque, segundo ele, os jogadores do
Manchester United “fizeram literalmente a cama a José Mourinho” para que este
fosse despedido!! Acho uma vergonha por parte de um clube histórico como o
Manchester United Football Club, promover o desleixo dos seus treinadores! Se
fizeres a cama... RUA!! Tem de ficar desfeita, para arejar um bocadinho...!!
Ora, por pura ruindade (algo que também me indigna), os
jogadores mais insatisfeitos do M.U., de alguma forma, conseguiram invadir a
casa do José, fazer-lhe a cama de lavadinho (imagino eu, só para aumentar ainda
mais a selvajaria), e provar esse crime perante o clube. Não se faz!! Mais uma
pessoa para o desemprego por lhe terem feito a cama!
Estou certo de que ocorrerão mais casos destes para eu me
agastar no futuro, mas por agora, indignações à parte e falando muito a sério,
espero apenas que estas pessoas cuja identidade religiosamente tentei
preservar, nunca tenham a infelicidade de se enganar novamente ou seguir o
verdadeiro sentido de “literalmente” em expressões tão belas e populares como
“caga nisso”, “caga neles” ou até mesmo no corriqueiro “chuuuuupa”.
Charlie S. Dias