Posted by : Charlie S. Dias terça-feira, 14 de março de 2023

 

Assisto ao festival da Eurovisão desde 2006, ainda que nem sempre da forma mais atenta ou assídua, sobretudo nos meus primeiros anos de espetador. Muitas canções, interpretações, cenários ou até guarda-roupas permanecem na nossa memória. Outras vezes, misturam-se, adulteram-se, desvanecem ou desaparecem mesmo por completo. Ao longo de anos de acompanhamento, vão-se estabelecendo na nossa mente padrões e opiniões gerais acerca de cada país participante, de forma mais ou menos correta. Nesta rubrica irei recuar no tempo, às participações de vários países na Eurovisão, desde 2006, destacando as minhas principais recordações e preferências ao longo desta retrospeção. No final, poderei comparar a ideia pré-estabelecida que tinha das edições passadas com as conclusões que retirei desta minha viagem do passado ao presente.





Os primeiros pensamentos que me ocorrem ao associar os Países Baixos à Eurovisão, resumem-se principalmente a cantores a solo com grandes vozes, baladas pop perfeitas para rádio e presenças assíduas em finais. Diria mesmo, uma nação constantemente entre o lote dos melhores na competição. Em suma, um dos países com maior tradição e qualidade em festivais da canção da Eurovisão.

 Vamos lá relembrar as atuações neerlandesas para perceber se realmente corroboram esta impressão:

 

2006

Treble – "Amambanda" – Não se qualificou para a final

 

2007

Edsilia Rombley  “On Top Of The World” – Não se qualificou para a final

 

2008

Hind – “Your Heart Belongs To Me” – Não se qualificou para a final

 

2009

The Toppers – “Shine” – Não se qualificou para a final

 

2010

Sieneke - "Ik Ben Verliefd (Sha-la-lie)” – Não se qualificou para a final

 

A primeira canção da qual tenho vagas recordações, talvez pelo seu estilo festivaleiro, com um refrão que facilmente fica na cabeça, em neerlandês. Também o cenário, guarda-roupa e a coreografia são fora do comum e bastante característicos. No entanto, limita-se apenas a uma vaga recordação.

 

2011

3JS - "Never Alone" – Não se qualificou para a final

 

2012

Joan Franka - "You And Me" – Não se qualificou para a final

 

Apesar de não ter passado à final, lembro-me melhor desta canção, não fosse toda a atuação bastante peculiar. Joan Franka aparece em palco apenas com uma viola na mão, de vestido azul claro e um enorme cocar na cabeça, para nos apresentar uma canção country alegre e cativante (fofa, até). A sua banda surge depois do outro lado do palco, quando o plano se abre, com uma panóplia de instrumentos que se convertem numa bela melodia.

A atuação culminou no triste momento em que percebi que, para minha surpresa, ficava pelo caminho na semi-final da competição.

 



2013

Anouk - "Birds" – 9º lugar

 

Aqui finalmente começa uma ideia que paira algures no subconsciente da minha mente para atuações neerlandesas mais recentes: uma entidade nórdica, sozinha em palco, em cenário negro, cantando uma música calma que culmina num poderoso refrão.

 

2014

The Common Linnets - "Calm After The Storm" – 2º lugar

 

O primeiro registo que realmente me marcou! Mais uma vez, em cenário escuro e intimista, uma atuação simples em que a própria canção e os seus intérpretes se tornam destaque. Uma mulher loira de vestido branco e o seu dueto masculino de fedora, apenas cantando e tocando as suas guitarras frente a frente, na modesta ribalta. Atrás, menos saliente, a pequena banda que toca a melodia cativante.

Tendo ficado em segundo lugar, é normal que, para muitas pessoas como eu, esta atuação tivesse sido a desejada vencedora, em detrimento da canção de Conchita Wurst que acabou por ganhar a competição.

Além de me lembrar bem desta canção por ter sido unânime no meu seio familiar e por ter torcido por ela, também é difícil esquecê-la pela melodia com que começa, que me faz imediatamente lembrar o início de “Every Break You Take”, dos The Police.

 

 

2015

Trijntje Oosterhuis - "Walk Along" – Não se qualificou para a final

 

Mais uma balada pop e a cantora isolada do seu coro, num cenário escuro e simples. Uma canção que poderia perfeitamente ter chegado à final.


2016

Douwe Bob - "Slow Down" – 11º lugar

 

Tenho algumas recordações da canção depois de a rever. Mais uma vez, parece-me uma espécie de balada pop, talvez misturada com algum country e mais ritmo. Mais uma vez, um cantor atua enquanto toca guitarra, com a sua banda em plano de fundo. Mais uma vez, cenários e luzes que transmitem calma e simplicidade, apesar de já ter misturarem algumas cores quentes. É uma canção de rádio: agradável e que fica no ouvido.

 

2017

OG3NE - "Lights And Shadows" – 11º lugar

 

Volta ao palco o cenário escuro e um simples jogo de luzes. Desta vez, albergando três boas vozes femininas, que são o que mais me permanece na memória. Descreveria a canção como uma balada pop mais rítmica, tentando passar uma mensagem positiva, mas um pouco banal.

 

2018

Waylon - "Outlaw In 'Em" – 18º lugar

 

Não é muito difícil desenterrar algumas recordações quando se revê um cantor de guitarra, fedora, estilo texano e casaco em tons de leopardo a cantar country rock com a sua banda na Eurovisão. Só o cenário mais escuro, apesar da intensa atividade de luzes berrantes, remete mais à minha ideia inicial dos Países Baixos na Eurovisão.

Fica uma canção agradável e diferente do habitual na Eurovisão para a memória futura.

 

2019

Duncan Laurence - "Arcade" – 1º lugar

 

Possivelmente o apogeu da minha ideia inicial dos Países Baixos na Eurovisão. Cenário negro, alternando em tons entre o preto e o azul escuro, foco luminoso no cantor a solo, agora também no seu piano, tocando e cantando uma maravilhosa balada pop intimista. Simplicidade no seu melhor.

Acho que não é necessário fazer grandes comentários à canção, já que foi a vencedora e ficou amplamente reconhecida por toda a europa, tocando inclusivamente ainda hoje nalgumas rádios. Só posso dizer que esta arrepiante atuação foi uma justíssima vencedora e que tão depressa não será esquecida.



2020

Jeangu Macrooy - "Grow" – Eurovisão foi cancelada devido à Covid-19

 

2021

Jeangu Macrooy - "Birth Of A New Age" – 23º lugar

 

Se começa bem ao estilo neerlandês mais simples e carregado, isso depressa se desmistifica, à medida que se aproxima o refrão e a essência da canção. A atuação faz alusão à antiga colónia neerlandesa do Suriname, sendo o refrão cantado em crioulo do país. Pode resumir-se como uma canção com sonoridade bastante tribal e alegre. Esse é o fator diferenciador que mais pode fazer recordar esta atuação.

 

2022

S10 - "De Diepte" – 11º lugar

 

Assemelha-se perfeitamente à minha imagem inicial dos Países Baixos na Eurovisão. Típica cantora neerlandesa, simplesmente a cantar sozinha ao centro do palco escuro. Uma balada pop agradável ao ouvido, claro. Canção calma e um refrão bastante assimilável e reprodutível. Não acrescentaria nada, a não ser que, desta vez, canta na própria língua.

Foi uma das minhas canções preferidas da última edição da Eurovisão e dificilmente me será esquecida.



 

No fim desta pequena análise, posso concluir que é por demais evidente que a imagem que tinha dos Países Baixos na Eurovisão se foi moldando principalmente pelas atuações a partir de 2014. Talvez o segundo lugar nesse ano tenha incentivado os Países Baixos a padronizar um pouco esse estilo nas canções enviadas, e claramente que colheram os seus frutos em 2019.

As canções que mais me marcaram, de 2014, 2019 e 2022, resumem tudo na perfeição, e foram as que obviamente mais contribuíram para a minha memória formada dos Países Baixos na Eurovisão, inclusivamente em relação aos resultados obtidos em competição.

Na generalidade, destaco também uma preferência para sons de guitarra e até de um certo estilo country que já não tinha tão presente na minha memória.




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