Posted by : Charlie S. Dias sexta-feira, 24 de março de 2023

 


Assisto ao festival da Eurovisão desde 2006, ainda que nem sempre da forma mais atenta ou assídua, sobretudo nos meus primeiros anos de espetador. Muitas canções, interpretações, cenários ou até guarda-roupas permanecem na nossa memória. Outras vezes, misturam-se, adulteram-se, desvanecem ou desaparecem mesmo por completo. Ao longo de anos de acompanhamento, vão-se estabelecendo na nossa mente padrões e opiniões gerais acerca de cada país participante, de forma mais ou menos correta. Nesta rubrica irei recuar no tempo, às participações de vários países na Eurovisão, desde 2006, destacando as minhas principais recordações e preferências ao longo desta retrospeção. No final, poderei comparar a ideia pré-estabelecida que tinha das edições passadas com as conclusões que retirei desta minha viagem do passado ao presente.





A Rússia na Eurovisão remete-me a uma identidade musical russa vincada, mesmo que por ventura cantada em inglês. Talvez seja apenas algum tipo de sotaque, mas fica a ideia de uma sonoridade russa característica. O mesmo se poderá dizer do estilo musical, qualquer que seja, que parece sempre ter aquele toque russo difícil de descrever. Com uma presença regular em finais, engloba um pouco de tudo no meu imaginário, desde as canções mais inusitadas, às tradicionais ou mais genéricas. Das canções mais banais, às potenciais vencedoras...

 


2006

Dima Bilan - "Never Let You Go" – 2º lugar

 

Uma canção bastante dançável e que fica no ouvido. Não foi por acaso que ficou em segundo lugar, apenas atrás dos Lordi. O pop russo conquistava o público e, provavelmente, também os meus ouvidos ainda muito novos e algo desatentos. A melodia não me era nada estranha, e após anos revi a atuação por algumas vezes.





2007

Serebro - "Song # 1" – 3º lugar

 

2008

Dima Bilan - "Believe" – 1º lugar


Apesar de ter sido provavelmente o primeiro festival da Eurovisão a que realmente assisti com mais atenção, lembro-me perfeitamente desta atuação, não fosse a canção vencedora. A canção pop, um pouco ao estilo de 2006, mas mais intimista, intensa e com o salto qualitativo necessário para a vitória. Desta vez, Dima Bilan juntava-se a um coro magnífico, com violinos à mistura. Toda a performance do trio central é marcante: o vocalista todo vestido de branco, descalço e ajoelhado, que acaba por abrir a camisa perto do fim; o violonista “maluco” de cabelo comprido; e o extravagante bailarino patinador, de clara aparência russa, a esvoaçar os seus longos cabelos em redor dos seus colegas.

Um primeiro lugar memorável e muito merecido.





2009

Anastasia Prikhodko - "Mamo" – 11º lugar


A extravagância e originalidade de ter ecrãs gigantes no fundo do cenário com o rosto da vocalista a envelhecer, parece cutucar algures nos recônditos da minha memória. Percebe-se porquê.

 

2010

Peter Nalitch & Friends - "Lost And Forgotten" – 11º lugar


Ao rever esta atuação, o que me surge na memória primeiro é a aparência modesta do vocalista. Depois, que talvez fosse uma daquelas canções que não achava má em competição, no longínquo ano de 2010. Ao ouvir a canção muitos anos depois, de estilo que me lembra o indie, confirmo que é uma canção melódica e agradável de se ouvir.

 

2011

Alexej Vorobjov - "Get You" – 16º lugar

 

2012

Buranovskiye Babushki - "Party For Everybody" – 2º lugar


Esta atuação é daquelas que simplesmente não se esquece! As famosas babushkas, as avozinhas aparentemente vindas diretamente de uma qualquer aldeia remota da Rússia, com os seus trajes tradicionais, cozinhando o pão e dançando, são candidatas a uma das atuações mais fofas de sempre na Eurovisão. As vozes sincronizadas e a bonita melodia tipicamente russa transformam-se subitamente num refrão surpreendente, parcialmente num inglês curto e bastante trauteável que, realmente, mete qualquer um a dançar. Toda a interpretação torna esta canção num ícone da Eurovisão, e não é por acaso que alcançou o segundo lugar da competição.




2013

Dina Garipova - "What If" – 5º lugar

 

2014

Tolmachevy Sisters - "Shine" – 7º lugar

 

2015

Polina Gagarina - "A Million Voices" – 2º lugar


Ao rever a atuação e relembrando a sua posição final, posso concluir que torcia para que não fosse a vencedora de 2015 naquela noite. Uma canção agradável, poderosa e com uma grande intérprete, mas que na altura não me conseguiu cativar particularmente e que desvaneceu quase que por completo da minha memória, possivelmente face à concorrência de peso.

 

2016

Sergey Lazarev - "You Are the Only One" – 3º lugar


Ao contrário do que acontecia no ano anterior, esta canção poderia muito bem ter vencido a sua edição, aos meus olhos. Sergey Lazarev apresenta mais uma vez, por parte da Rússia, a receita de uma excelente canção pop dance, à qual junta uma coreografia em interação magnífica com o cenário de fundo digital. A canção marcou-me de tal forma que tinha de ser incluída em playlists pessoais que faria nos anos seguintes, permanecendo assim facilmente no meu baú de memórias da Eurovisão.

Seria um digno sucessor de Dima Bilan, com um estilo com algumas semelhanças.





2017

Julia Samoylova – “Flame Is Burning” –  Não pôde participar na edição realizada na Ucrânia, por motivos políticos

 

2018

Julia Samoylova - "I Won't Break" – Não se qualificou para a final

 

2019

Sergey Lazarev - "Scream" – 3º lugar


Longe de me ter cativado como a sua participação de 2016, posso recordar-me que, mais uma vez, torcia para que a canção russa não chegasse ao primeiro lugar nesse ano, tendo ficado depois esquecida no tempo. Desta vez, realmente ao estilo da saudosa atuação vencedora de Dima Bilan, Lazarev apresenta-se igualmente todo vestido de branco e com uma música intensa e dramática. O cenário, com o qual permanece interagindo, ainda que de forma menos direta, é escuro e remete a tempestades que acentuam a carga desta poderosa canção.

 

2020

Little Big - "Uno" – Eurovisão foi cancelada devido à Covid-19

 

2021

Manizha - "Russian Woman" –  9º lugar


Relembro esta participação russa como uma das atuações mais interessantes em prova na final. Mais uma vez, a atuação junta elementos de surpresa e características bizarras na Eurovisão. A intérprete começa dentro de um enorme vestido típico russo, quase como que encarnando uma matrioska, e canta numa espécie de rap lento e tradicional, até finalmente abandonar o seu vestido gigante e o rap se tornar mais enérgico. No refrão, a melodia muda drasticamente para uma versão mais poderosa e que remete bastante às tradições russas, quer através da sonoridade, quer através do cenário de fundo que se alinha em sintonia com esta mudança. Uma canção definitivamente facilmente recuperável na memória ao ser revista.

 

2022

Proibida de participar na Eurovisão pelo conflito na Ucrânia.

 



Analisando em retrospetiva as participações russas desde que assisto à Eurovisão, devo salientar os extraordinários resultados que tem alcançado, muito superiores à primeira impressão que tinha em mente. Conquistou sete lugares no pódio, um dos quais o primeiro lugar! Possivelmente essa pequena discrepância nas minhas lembranças se deva a algumas participações russas que, com excelentes pontuações, excediam bastante a minha avaliação pessoal. Hoje, é justo reconhecer que, no geral, a Rússia apresentou quase sempre canções bastante fortes, por uma ou outra razão. Contudo, as participações russas de 2008 e 2016 foram claramente as mais marcantes para mim.

No que diz respeito aos estilos musicais apresentados e às performances artísticas, confirmam-se a variabilidade, a originalidade e a surpresa existentes, juntamente com um certo carácter identitário vincado em muitas das atuações.

Ficam também marcadas as ausências deste “peso pesado” da Eurovisão por duas ocasiões, em consequência do conflito duradouro com a sua vizinha Ucrânia.

Numa única palavra, poderia certamente avaliar globalmente participações Russas na Eurovisão como "surpreendentes".




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