Assisto ao festival da Eurovisão desde 2006, ainda que nem sempre da forma mais atenta ou assídua, sobretudo nos meus primeiros anos de espetador. Muitas canções, interpretações, cenários ou até guarda-roupas permanecem na nossa memória. Outras vezes, misturam-se, adulteram-se, desvanecem ou desaparecem mesmo por completo. Ao longo de anos de acompanhamento, vão-se estabelecendo na nossa mente padrões e opiniões gerais acerca de cada país participante, de forma mais ou menos correta. Nesta rubrica irei recuar no tempo, às participações de vários países na Eurovisão, desde 2006, destacando as minhas principais recordações e preferências ao longo desta retrospeção. No final, poderei comparar a ideia pré-estabelecida que tinha das edições passadas com as conclusões que retirei desta minha viagem do passado ao presente.
*Artigo redigido antes da edição de 2023
Sem uma pesquisa prévia e seguindo apenas a minha primeira
intuição enquanto espetador da Eurovisão, arriscaria dizer que a Suécia é o
país com mais tradição na prova. Além da sua presença ser constante nas finais,
já venceu por várias vezes. Associo à Suécia o título virtual de campeão
absoluto da Eurovisão, porque são raras as ocasiões em que não se apresentam
com uma das melhores atuações em prova. Normalmente com canções festivaleiras
facilmente retidas na memória. Talvez até o distante legado dos ABBA ainda
tenha influência no meu subconsciente. Veremos se o meu instinto é real ou
apenas uma ilusão estimulada pelos recentes vencedores vindos deste país
escandinavo.
2006
Carola - "Invincible" – 5º lugar
2007
The Ark - "The Worrying Kind" – 18º lugar
2008
Charlotte Perrelli - "Hero" – 18º lugar
2009
Malena Ernman - "La Voix" – 21º lugar
A minha primeira e vaga recordação da Suécia, com Malena assemelhando-se
a um anjo de branco cantando ópera, mas, sempre com a componente festivaleira
como melodia de fundo.
2010
Anna Bergendahl - "This Is My Life" – 11º lugar
2011
Eric Saade - "Popular" – 3º lugar
2012
Loreen - "Euphoria" – 1º lugar
Sem dúvida, a minha primeira grande recordação da Suécia.
Naturalmente que “Euphoria”, até por se ter sagrado vencedora, não iria ser
esquecida. Mais uma vez, um refrão muito cativante e que fica facilmente no
ouvido. Quem ouve esta canção sem dar por si a repetir ou a relembrar um
refrão tão trauteável? A batida da música é hipnotizante e e enquadra-se
perfeitamente na ideia de festival. Também a dança de Loreen, com o seu cabelo
selvagem, é impossível passar despercebida. Foi um justíssimo vencedor e, ainda
hoje, tenho a sensação de que foi das canções vencedoras mais unânimes entre o
público desde que assisto à Eurovisão.
Robin Stjernberg - "You" – 14º lugar
Mais uma boa canção de festival que se expande no refrão em
estilo pop, que se dança e canta muito facilmente, como qualquer festival pede.
2014
Sanna Nielsen - "Undo" – 3º lugar
Ao ouvir de novo a canção, relembro-me perfeitamente. É uma
linda atuação, com uma voz muito poderosa e uma bela melodia acompanhada pelo piano,
até culminar no portentoso refrão. Uma atuação em que apenas a voz e a música
se destacam, em perfeita sintonia.
Se não estou errado, era a minha favorita para vencer a
edição de 2014.
Måns Zelmerlöw - "Heroes" – 1º lugar
Um cantor carismático, uma voz atraente, um refrão cativante
e reprodutível, uma música vibrante, um original cenário digital a interagir
com uma bela coreografia... Da mistura destes ingredientes só poderia sair um grande vencedor.
Esta canção foi simplesmente a receita perfeita para mais um
grande êxito sueco na Eurovisão, e não é por acaso que ainda é uma das músicas mais reproduzidas em eventos de retrospeção da Eurovisão. Inesquecível.
Frans - "If I Were Sorry" – 5º lugar
Sem grande exuberâncias. Apenas um simples intérprete deixando que a sua
canção fale por si e coloque o público a cantarolar e a bater o pé. Era uma
das minhas canções favoritas de 2016 e foi das poucas que alcançou bastante sucesso nas estações de rádio europeias sem ter sido consagrada vencedora na sua edição. De facto, diria que tem a sonoridade e o ritmo perfeitos para a típica música de
rádio.
Robin Bengtsson - "I Can't Go On" – 5º lugar
2018
Benjamin Ingrosso - "Dance You Off" – 7º lugar
2019
John Lundvik - "Too Late for Love" – 5º lugar
2020
The Mamas - "Move" – Eurovisão foi cancelada devido à Covid-19.
Tusse - "Voices"
Apesar da modesta pontuação final, lembro-me que foi das
minhas canções favoritas de 2021 na Eurovisão. Mais uma clássica atuação de
música festiva e refrão facilmente reproduzível, aliado a uma melodia vibrante
que explode no refrão. Esta canção tem a particularidade de possuir uma certa sonoridade
africana, quer na melodia, quer no coro do refrão, que a torna ainda mais singular
e estimulante.
Cornelia Jakobs - "Hold Me Closer – 4º lugar
Foi uma das minhas canções preferidas deste ano. O que mais
me cativa na canção, como de costume, é a forma como cresce até ao clímax do
refrão, que possui uma sonoridade muito agradável numa espécie de pop rock. O
timbre da cantora também me parece peculiar e muito bem enquadrado na
canção.
Concluo que esta análise às participações da Suécia na Eurovisão não deixou a
minha primeira impressão mal vista. De facto, a Suécia nunca falhou a final de
uma Eurovisão desde que assisto, obtendo excelentes pontuações além da sua dupla
vitória da competição. Em diversos anos, reconheci a performance sueca como uma das melhores atuações
em prova.
Particularmente a partir de 2012, torna-se clara uma espécie
de padrão de identidade sueca na Eurovisão, com as tais músicas bastante festivaleiras e cativantes, dentro do género pop. Em
suma, as tais músicas que ficam muito facilmente no ouvido e que conseguem
fazer qualquer pessoa mexer.
Entre muitas canções memoráveis, as duas vencedoras são
obviamente as duas que mais brilham na minha memória.
Se não é este o país com a generalidade das atuações mais
sólidas e bem conseguidas desde que assisto à competição, certamente estará
muito próximo.