Assisto ao festival da Eurovisão desde 2006, ainda que nem sempre da forma mais atenta ou assídua, sobretudo nos meus primeiros anos de espetador. Muitas canções, interpretações, cenários ou até guarda-roupas permanecem na nossa memória. Outras vezes, misturam-se, adulteram-se, desvanecem ou desaparecem mesmo por completo. Ao longo de anos de acompanhamento, vão-se estabelecendo na nossa mente padrões e opiniões gerais acerca de cada país participante, de forma mais ou menos correta. Nesta rubrica irei recuar no tempo, às participações de vários países na Eurovisão, desde 2006, destacando as minhas principais recordações e preferências ao longo desta retrospeção. No final, poderei comparar a ideia pré-estabelecida que tinha das edições passadas com as conclusões que retirei desta minha viagem do passado ao presente.
*Artigo redigido antes da edição de 2023
Estónia na Eurovisão... Um país com as suas presenças, mas
sem grande tradição desde que assisto ao evento. Com algumas participações em finais, associaria as atuações da Estónia tipicamente em cenários escuros e cantores a
solo, apresentando maioritariamente baladas ou vertentes de canto lírico. Visualizando os recantos da minha memória, a bandeira da
Estónia surge como presença habitual na segunda metade das tabelas em finais.
2006
Sandra - "Through My Window" – Não se qualificou
para a final
Gerli Padar - "Partners In Crime" – Não se
qualificou para a final
2008
Kreisiraadio - "Leto Svet" - Não se qualificou para a final
2009
Urban Symphony - "Rändajad" – 6º lugar
A primeira atuação da Estónia que pode eventualmente ter
moldado o meu imaginário acerca deste país na Eurovisão: Um boa
canção, com uma melodia instrumental muito peculiar e interessante, num cenário em tons azuis escuros e onde o grande destaque é a intérprete emitindo a
sua voz digna de ópera e o som do seu violino. No refrão, é acompanhada por um agradável cordo feminino.
2010
Malcolm Lincoln - "Siren" – Não se qualificou para
a final
De novo, um cantor a solo imerso num cenário escuro, predominantemente azul ou preto, ao qual se junta um coro e pianistas em plano de fundo.
2011
Getter Jaani - "Rockefeller Street" – 24º lugar
Esta canção dance-pop, de refrão muito festivaleiro, oferece também uma coreografia e até cenários incomuns e arrojados. Infelizmente, apesar da minha reconhecida ignorância na matéria, arrisco dizer que a interpretação vocal parece ficar aquém.
2012
Ott Lepland - "Kuula" – 6º lugar
"Sei como é, um cantor a solo, um pouco lírico até, em cenário escuro que reflete a dor, de um triste solitário que queria mais, mais amor...". Mesmo sem perceber estónio, acredito que esta minha primeira frase em jeito de Madalena Iglésias se enquadrará bem para descrever esta atuação.
Relembro-me vagamente do recap desta canção, pela forma peculiar como o cantor gritava “kuulaaaaaa” no refrão, apesar de não me ter cativado particularmente.
2013
Birgit - "Et Uus Saaks Alguse" – Não se qualificou
para a final
Mais uma intérprete isolada na frente do palco, exibindo uma panóplia de agudos que domina, num cenário que começa escuro e algo melancólico, em contraste com o seu vestido branco.
2014
Tanja - "Amazing" – Não se qualificou para a final
Um dance-pop agradável para dançar.
2015
Elina Born & Stig Rästa - "Goodbye to
Yesterday" – 7º lugar
Rever esta atuação, sem dúvida que me avivou a memória em relação à participação da Estónia em 2015. A um cenário
negro inicial e um cantor masculino a sós com a sua guitarra, junta-se depois uma extraordinária
voz feminina para se formar um belo dueto. Uma boa
canção, calma e agradável ao ouvido.
Jüri Pootsmann - "Play" – Não se qualificou para a
final
Koit Toome & Laura - "Verona" – Não se
qualificou para a final
Além das particularidades já bastante repetidas acerca das atuações da Estónia, que se verificam também aqui na fase inicial, parece também começar a constituir-se um pequeno padrão para a preferência por longos vestidos brancos de contraste em atuações femininas. A canção evolui para um vertendo mais pop quando surge um elemento masculino para formarem um dueto.
2018
Elina Nechayeva - "La Forza" – 8º lugar
Na atuação de 2018, a cantora a solo aposta num vestido longo e exuberante que se confunde com os efeitos aplicados no piso, enquanto canta ópera num cenário escuro, como não poderia deixar de ser. Ao rever a atuação, relembro a sonoridade instrumental peculiar e muito poderosa, que se complementa muito bem com o exímio canto agudo de Elina Nechayeva.
Victor Crone - "Storm" – 20º lugar
Mais um cantor a solo segurando a sua guitarra num ambiente calmo e intimista, mas que acaba por culminar num refrão pop interessante e mexido.
Uku Suviste - "What Love Is" – Eurovisão foi cancelada devido à Covid-19.
Uku Suviste - "The Lucky One" – Não se qualificou para a final
Stefan - "Hope" – 13º lugar
Foi uma das boas surpresas desta edição da
Eurovisão. Bem ao estilo country texano, é uma música diferente do que costuma ser apresentado em competição, que fica facilmente no ouvido e que dá vontade de bater o pé. Além de ser vocalmente bem interpretada.
Após esta pequena revisão das
presenças da Estónia desde que assisto à Eurovisão, posso concluir que este pequeno país báltico privilegia de facto atuações simples com intérpretes a solo ou em dueto misto, sem grandes coreografias, artefatos
e exuberâncias. O mesmo se aplica a todo o cenário, que normalmente aplica tons escuros e melancólicos, recorrendo-se também a luzes simples para
complementar as atuações, apesar de muitas vezes existir uma transformação no
refrão.
Em relação aos instrumentos e estilos musicais adotados, diria que os
estónios também escolhem preferencialmente a simplicidade e a autenticidade da voz, por vezes também com uma atração especial por guitarras, violas
ou até violinos para acompanhar. No entanto, devo reconhecer que a ideia de que
traziam frequentemente baladas foi completamente posta de lado depois desta viagem ao passado. Em
vez disso, se tivesse de escolher uma particularidade, diria que recorrem essencialmente a cantos mais em estilo de ópera, com grande exigência vocal e em
plano agudo. Estilos variados, mas quase sempre calmos e sem grandes
exuberâncias, mais uma vez.
Não tendo de facto muita tradição, inclusivamente com vários anos sem alcançar a final, apresentaram algumas
canções agradáveis, mesmo que não tenha havido nenhuma atuação da Estónia particularmente marcante para mim.
A atuação de que melhor me recordo, até por ser a última, é
a de 2022, e é possivelmente a minha preferida de todas estas canções
revisitadas.