Assisto ao festival da Eurovisão desde 2006, ainda que nem sempre da forma mais atenta ou assídua, sobretudo nos meus primeiros anos de espetador. Muitas canções, interpretações, cenários ou até guarda-roupas permanecem na nossa memória. Outras vezes, misturam-se, adulteram-se, desvanecem ou desaparecem mesmo por completo. Ao longo de anos de acompanhamento, vão-se estabelecendo na nossa mente padrões e opiniões gerais acerca de cada país participante, de forma mais ou menos correta. Nesta rubrica irei recuar no tempo, às participações de vários países na Eurovisão, desde 2006, destacando as minhas principais recordações e preferências ao longo desta retrospeção. No final, poderei comparar a ideia pré-estabelecida que tinha das edições passadas com as conclusões que retirei desta minha viagem do passado ao presente.
*Artigo redigido antes da edição de 2023
Lembro-me da Turquia ter algumas participações na Eurovisão, inclusivamente na final. Do mesmo modo, tenho ideia de alguns anos sem ter ultrapassado as semifinais e até de completa ausência da competição em anos mais recentes, por motivos que ainda desconheço. Além de nunca ter sido o vencedor desde que assisto a este evento musical. É portanto natural que não remeta a Turquia à categoria de países com muita expressão na Eurovisão ou que tenha estabelecido muitas memórias duradouras na minha cabeça. No entanto, diria que associo a Turquia a temas que se podem fundir com ritmos e influências mais orientais e árabes, compreensivelmente, além de relembrar particularmente uma participação de rock.
2006
Sibel Tüzün - "Superstar" – 11º lugar
Não me lembro minimamente desta canção, mas é curioso
confirmar uma passagem nesta canção com o referido toque árabe/oriental, antes do
refrão, acompanhada de uma espécie de amostra de dança do ventre.
2007
Kenan Dogulu - "Shake It Up Shekerim" – 3º lugar
Aqui sim, uma atuação claramente remetendo a influências árabes/orientais. Desde a música, às bailarinas de danças orientais, ao guarda-roupa e
às cores quentes e brilhantes que constituem o cenário.
2008
Mor ve Ötesi - "Deli" – 7º lugar
Um rock turco de qualidade. Ao rever a atuação, a cara do
vocalista foi-me imediatamente bastante familiar - a tal atuação reconhecida na
minha introdução prévia. Posso dizer que esta canção era das minhas
favoritas na edição de 2008, ou pelo menos das que mais me terá marcado. Surpreende-me que tenha ocorrido num ano já tão distante.
2009
Hadise - "Düm Tek Tek" – 4º lugar
Mais uma vez, apesar de não me querer tornar repetitivo, torna-se imperativo mencionar a clara alusão a ritmos orientais típicos da
Turquia e igualmente muito associados a países árabes. Tons vermelhos apaixonantes
e quentes, danças sensuais e vestimentas a rigor, música e instrumentalidade típicas e dançáveis. Já não me lembrava desta participação à
partida, mas bastaram alguns segundos para logo reconhecer esta canção do
longínquo ano de 2009.
maNga - "We Could Be The Same" – 2º lugar
Outra excelente canção rock enviada pela Turquia, fundida com partes de uma espécie de rap e techno. É uma canção bastante poderosa e cativante, que também na altura não me deixou indiferente. Foi um dos principais destaques de 2010, ficando com o honroso segundo lugar.
Yüksek Sadakat - "Live It Up" – Não se qualificou
para a final
Mais uma canção rock.
2012
Can Bonomo - "Love Me Back" – 7º lugar
A melodia típica da Turquia continua presente, mas desta vez
sem as bailarinas e danças associadas, mais ao estilo pop. Relembro-me
particularmente desta atuação por toda a caracterização do cantor, imitando um marinheiro, assim como a dos seus bailarinos, que acabam por encarnar uma original
embarcação na sua coreografia.
2013 - Presente
A Turquia abandonou a Eurovisão após 2012
Após esta breve análise, posso concluir que a minha memória se
encontrava um pouco confusa no que diz respeito às participações da Turquia na Eurovisão.
Questiono-me incredulamente como o meu cérebro conseguiu escamotear o boicote ininterrupto da Turquia por tantos anos. Apercebia-me da ausência da turca de forma genérica e associada aos anos mais recentes, mas nunca na sua dimensão real, já desde 2012. Talvez por isso tenha associado erradamente a Turquia a participações mais modestas e sem grande relevo. Afinal, quem não é visto, dificilmente é relembrado. A verdade é que os resultados das poucas atuações que assisti da Turquia são, no geral, surpreendentemente excelentes.
Pode-se verificar a grande aposta da Turquia em ritmos e
sonoridades orientais características, mesopotâmicas, diria. O mesmo se pode dizer do
rock. Ainda que a minha conturbada mente tenha conseguido mencionar essas duas
ideias na abordagem inicial, não tinha a consciência nítida das apostas tão vincadas nestes dois estilos. Parece que, contrariando a minha vaga ideia inicial,
afinal a Turquia tem sido um país bastante característico e até marcante
na Eurovisão. Até ter abandonando a competição, obviamente.
A atuação que melhor recordava, mesmo que timidamente, era a de 2008,
apesar de possivelmente essa memória ter permanecido misturada e adulterada por influências do ano de
2010.